O dilúvio achega-se
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Um conjunto de velhotas/testemunhas de jeová rogou-me pragas por não me ter disponibilizado para lhe abrir a porta. Justificações como “estou de cuecas” ou “estou a tentar concentrar-me para ter pelo menos dez minutos de paz a ver pornografia” não comoveram as senhoras. “O senhor vai pagar pelos seus pecados.” Os meus pecados, presumo, resumiam-se a não as ter autorizado a prosseguir um discurso que começara com a frase: “Temos notícias gravíssimas sobre o mundo.” As velhotas não sabiam com quem se tinham metido. Detesto que me roguem pragas, a última que o fez foi a minha sogra e ficou com o nariz torto. Decidi assustá-las saindo nu à rua, mas elas não só apreciaram como correram na minha direcção como se fossem víboras famintas. A minha sorte foi ter fechado a porta a tempo. Vinguei-me de outra maneira: estiquei a mangueira e cá vai água pelas escadas. Uma das defensoras da moral partiu a dentadura após choque frontal contra o mármore que diariamente tenho de pisar para chegar a uma moradia a que num país civilizado se daria o nome de caixa de fósforos. Tentando resistir à força da água, a outra das religiosas lesionou-se no calcanhar de aquiles e teve de ser logo encaminhada para o hospital mais próximo. Ainda assim, restavam cinco testemunhas de jeová, cinco velhotas que não me saíam da porta. Ameacei violar a minha tia à frente delas. Garanti que espancaria o puto se não desandassem. "Depois do dilúvio, que venha o sangue", grasnou uma delas. Puxei uma faca do lava-loiça e gritei que as matava e escarrei na porta de modo a dar um toque realista à ameaça. Qual quê, as velhotas uivavam e zurravam e pediam vinho e água e sexo e homens fornicadores. Atirei-lhes os restos do frango assado do dia anterior e elas, demoníacas, deglutiram o repasto em menos de um minuto. Em desespero, peguei num martelo e abri a porta. Não sei o que me aconteceu depois. Acordei todo ferido, cheio de marcas de mordidelas e a cheirar a um rodízio de perfumes que só me recordava o mata-moscas que a minha avó usava lá na aldeia. Sei agora que sou um criminoso procurado e por isso já me pus a mexer num autocarro para Espanha. Abri ontem um jornal cuja manchete era a seguinte: "Predador viola cinco idosas em zona fina da cidade."