Brincos do Sol
/ O que só com as mãos pode ser soletrado / só nos teus olhos nos teus olhos escrito
Mário Cesariny, Corpo Visível
Enquanto um sol recém-nascido admira as suas mãos
e descobre que elas são suas,
O guizo, que agarra cada vez melhor
com o polegar que se fecha:
As mãos que percecionam o milagre são as mãos que fazem o milagre
E o planeta ri-se com o riso cheio das mãos que nos expandem,
Brincos de prata na memória solar
Porque o planeta é a luz que dá no planeta, e a perfeição
o campo mais amplo com que vemos aquilo a que viraríamos as costas
Correm pequenos sóis debaixo da ponte
onde um olhar líquido se veio banhar
Pelo lóbulo da orelha, eles batem na folha que cai
O veio desenhado na folha de prata, rasgada a meio
e os brincos nas orelhas um pouco perfeitas
Eu quero que o coração ganhe sempre -
Eu vou fazer com que o coração ganhe sempre,
Há alguém que se ri para iluminar o planeta todo,
para que ele ganhe
Agora mesmo com os dedos que mergulham na fonte
Acima, por trás, contornando as orelhas
mais fundo na fonte. - As mãos são uma onda
Têm os dedos de menina, com que a luz contorna o planeta,
levanta o trigo, eriça os cabelos, penteia as cidades,
enche e pulsa no que toca, dá-nos o coração cheio .
Um Sol recém nascido ri-se e os girassóis incham de prazer
As sementes, que não aguentam mais um segundo, – irrompem, rasgam - Aparecem à
superfície, como fios de cabelos novos, felizes:
Prontos para nascer.