de «Cenas de uma vida conjugal»
/Primavera. Mas quem disse?
É esta a luz que de quando em
quando enterra o bico do lápis,
o erro inteiro que se desprende,
espuma escadeando em sala perdida.
O entardecer, entre outras coisas:
tomando calmamente o fim do mundo
num copo de cerveja morna.
A conversa sempre difícil,
palavras que olhadas cegam.
Nem no fim da madrugada, sentados na
praça escura de pombos adormecidos,
encontramos fim nalgum sentido.
Tão tristes que então somos,
há um ardor mas falta-nos a garganta.
Olhos devassados pelo vento, o riso de
tão farto descola-se-nos dos dedos,
e vencidos retomamos todos os
obstáculos imbecis da noite:
temos muito que fazer.