Caixa de Velocidades

O carro arde, é 
verão, falha-me 
a embraiagem 
(confesso que 
 tenho medo). 
 
É por Monsanto que 
sigo para recuperar 
no opifício do comercial 
centro a celeridade e 
beijar as montras do 
auto-conhecimento. 
 
Faço aquisições, toco 
na pele do pêssego. 
 
Posso porque conheço 
tão bem o curso que 
me transporta para o
nível menos um
como a família
de feudatários
da qual descendo.
respiro o condicionado
ar e a consolação de
um austero
estacionamento.  

Está escuro 
está fresco 
reina o silêncio. 
 
Regresso ao vermelho 
lugar e espera-me 
aí – ar gasoso e suspenso 
 
o garagista com olhos de Cristo 
e é com mãos nos bolsos 
que me aponta 
o dedo. 
 
De mão dada com 
o meu saco plástico, 
não me mexo. 
 
De olhos fechados 
conto até três 
(como Ele pede) 
mas é ponto 
assente:
Pulverizados podem 
seguir outros corpos 
em nuvens isentas 
financeiros túneis ou 
vias rápidas mas 
face ao ultimato 
não concedo 
 
Penso em nós – 
súbditos amantes 
no fundo do 
saco de polietileno – 
e simplesmente 
 
não desapareço.