Sequestro
/Um pouco por toda a sala o desejo é o mesmo. Fala-se porque é preciso iludir. Criam-se narrativas atrás de narrativas. Há sempre alguém que recorre às suas habilidades para entreter. E nós precisamos de paliativos sinceros, de gente que suba ao palco e nos conte histórias, porque as histórias são as benzodiazepinas de deus.
Os malditos sequestradores também se divertem. Usam e abusam do seu violento protagonismo. Sobem ao palco e fomentam a indisciplina. Há noites de sexo ao vivo e circo errático e inconsequente com as mais perfeitas esposas do reino. Somos todos obrigados a aplaudir.
Houve quem congeminasse, nos tempos mortos, em segredo, e até preparasse um plano de revolução mais ou menos exequível. Houve quem doasse um braço, um olho, uma vértebra, um pedaço importante do seu pudor e do seu perfil, só para evitar ver o seu filho sofrer.
A verdade é que o tempo passa e os resultados não são visíveis. Fala-se que o próximo passo é tentarmos a amizade com eles. Mas as baixas diárias não deixam sequer o melhor dos nossos actores intervir. Estamos todos intoxicados pela descrença