NEKUIA
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we pass on
to another cellar, another sliced wall
(HD, Trilogy)
começamos com o céu sob sombras
nesse tempo, onde eclodem punti luminosi
imitando os cabelos sussurrantes dos astros
descendo às entranhas das casas
As casas engolem o céu
– adiante então
até ao subterrâneo seguinte,
Vemo-nos talvez do outro lado
da chama e da cinza
da soma e sequência de nós
Isto é comédia
contas de cabeça ao fim dos trabalhos
dança desengonçada dos cotovelos
música feroz na corda do nervo
queda da forma na matéria rasa
dissecção da luz avara no olho baço
Isto é comédia, depois de gasta a terza rima
Isto é comédia na hora de levantar os mortos
para saber do caminho moroso até Ítaca
de encadeamentos e acasos
fúrias de deuses
e possíveis artifícios do mel
o que um crânio aguenta hã HD
isto dito em sussurro entre as paredes de um parêntesis
Mas afinal o que aguenta o crânio
e como levar os ossos à boca da luz
(terá perguntado Ulisses)
quando falta ao músculo o sangue vivo
e a cabeça é a casca de um fruto acabado
e isto terá ocorrido
soma e sequência,
engrenagem e transporte
uso e circulação dos bens
e a ruína das casas
a ruína das casas e uma romã
que se abre quando cai a luz
meses depois do fim da guerra
uma romã abre-se
no terraço da memória
e nela cai a luz
porque uma romã vive
a madeira vive e até a pedra vive
mas não há fruto romance ou teoria
ou livro de Homero ou ABC da beleza
aliteração ou rima ou açafrão no bolso para depois
ou magnetismo da memória
que corte o cabo condutor
que leva a canção do desastre
e a terra permanece, alguém disse,
e depois (meses depois)
Robinson virado do avesso
menos grego e mais velho
a íris luzente e de cócoras
à alvura e à voltagem
espreitando os astros
por entre as fibras dos calções
e déjà vus sobre Génova a luminosa
fazendo desvio por insectos até ao olho intacto
passando a luz pelo prisma do fim
sem norte
e sem companheiros, Tirésias,
como previsto
estamos meses depois
a morte afrouxou a sua canção
Uma lâmina de erva por cima da qual nada
Elysium no Inferno antes e depois
e as abas da tenda
boca de deus ou chuva que fazia
k-lakk…. thuuuuuu
vezes 4 (não contes)
se era ruído ou música
mas fala-me, História, ao ouvido,
que não consigo ver
ao longe Taishan e a beleza é difícil
já tinha avisado Tirésias
a rir
cuspindo sangue emprestado
Tudo isto faz parte do processo
Tremer de febre fará parte do processo
O ar que me arde faz parte do processo
A ladainha dos nomes faz parte do processo
Dierra, Agada, Ganna, Silla
e a Europa intacta na memória
Pisa para Sul e o vento que desce de Taishan
e a morte a morte faz parte do processo
e arde o ar rememoro o sabor
da romã que a luz abre na boca
por entre as linhas do arame que são parte do processo
a corrosão é parte do processo e o Paraíso
é uma lâmina de prata encostada à frente do crânio
que a luz não chega lá atrás e a morte
olho cego a céu aberto e o Paraíso
é a operação magnética do verso
antes de se desfazer
Elysium no Inferno
Elysium mas no inferno
e Confúcio era abrigo a luz era abrigo
mas os séculos não dão abrigo e o ar de Carrara
e o sal a queimar o dom da língua
Cantar é difícil
já tinha avisado Tirésias
o sangue a segurar-lhe os ossos
a beleza é difícil mas as nuvens
as nuvens sobre Pisa esplêndidas
e sobre a latrina o céu vasto e a luz luzente
à vista de Taishan
e a beleza é difícil mas a morte
é uma canção que fica no ouvido
(o que o crânio aguenta)
Isto é comédia
e o fulgor é propriedade da mente
e o Paraíso é propriedade da mente
e o Inferno faz parte do processo
então acabemos com o céu sob sombras
sob o qual se abre a boca à chuva de fogo
O lume estupendo de comer a própria língua
e o que amas
fica em depósito de cinza
na parede interior das bochechas
onde entrará a luz
mas não nascerá qualquer flor ou folha de erva
e seguimos até à próxima cave
e subiremos por arames até ao ar escuro
sobre Ítaca de muros desfeitos
algures ao vento e sobre a terra
longe de Taishan
e demasiado perto de tudo
A mente mudou-se para um anexo da mente
A mente habituou-se às traseiras