Divertimento

Parece eterna esta greve dos maquinistas da razão,
com paragens em Aumento de Salário,
Melhores Condições e Crédito.  
Junto das margens do quotidiano, damas e cavalheiros,
alguns vestidos segundo a última moda da época,
com piadas e chapéus lamentavelmente sinceros
dançam à volta de um presente envenenado
e choram pelo amanhã.

O tempo é compulsivo. O ar é compulsivo.

Gloriosos dermatologistas espreitam
sinais suspeitos no céu. A Lua,
esse belo e melancólico melanoma in situ,
insidiosamente recortada do método.

Penso, logo insisto na breve existência
da espera. Parece eterna.
Anjos que se exibem terminantemente
na sua terminologia,
passam dentro de automóveis cruéis
que urram por cima da História
e da invulnerabilidade, cheios de fome
e de átomos de tédio. 

Grandes ofertas de humidade escorrem
pelas paredes impávidas do século.
Não há ainda nenhuma data prevista
para sermos felizes para sempre.
O comboio que vai dar entrada na linha 2
é um macho alfa pendular
com destino a Indiferença.

Vens?