de Memoria in Memoriã

o dia seguinte é apenas o estorvo circunscrito das mãos. ignoras a voz com que se escreve a palavra.
não sabes da sua transformação audível para que se reverta o processo orgânico e definitivo do regresso do meu corpo sob a água líquida da memória.

há, dentro de ti, a inconfundível verdade da minha memória.
a tua solidão dentro de mim. e ajoelhamo-nos, os dois, diante de nós para nos vermos nesse abraço longilíneo onde nos despedimos para existirmos sozinhos.

 

podemos escolher o fim e o sacrifício. certamente não sabemos o lado certo e o lado errado.
podemos gastar, inutilmente, as forças na espera, última, do corpo que estremece com a chegada da voz que traz violentamente a saudade da luz:
é o teu rosto tapado pela escuridão.

agora a memória traz o lugar inabitado da infância.
jogas um jogo de azar ou de perder no som esquecido do teu corpo. um espelho de vergonha ou fotografia de silêncio.

é o nome que designa o lugar: casa.
e apercebemo-nos do intervalo que separa o teu corpo da noite.