De Memoria in Memoriã
/o grito ou o choro pressentido é a voz e o espaço inteiro que ocupa a memória. paisagem de inacessível nitidez.
disperso, é quase findo, mas cresce na direcção exacta onde nasce uma outra certeza: o corpo.
passa longe o tempo que vive no dizer excedido da tua voz. enquanto alguma coisa caminha indevidamente na nudez descuidada do teu corpo. imaginas as linhas do teu rosto no escuro. uma imagem de sustentação duvidosa.
cansados, deixamos que a noite nos amedronte na sua escuridão. queremos adormecer confundindo a realidade simbólica de que é feita a tua vinda e que agora me ocupa ilegitimamente a escrita e a realidade refractária que me confunde o espírito:
é o dia na noite.
fora da janela, do quarto que nos habita, há barulhos que anunciam o principiar de um outro estado.
precisamos de nos erguer: é este o princípio secular da separação dos nossos corpos.