Graal
/Há quem queira um porsche
um t8 no chiado
e uma ninhada de infantário
eu não,
do kit social nunca quis nada
nem palácio
nem putos
nem descapotável
chegava-me achar o verso santo
coronário
onde coubesse este mundo pouco beato
esta raça de papas
como que um piropo de padre
onde coubesse tudo tudo,
do papagaio burocrata grasso
ao carocho magro só a dieta
de pão e poesia chutada
Desse verso fiz soviético
minha foice martelo e causa
tentei educá-lo
idolatrando poetas mortos
e fantasmas
romantizá-lo
em pieguices de amor
fogo que arde
simplificá-lo
tipo ken com barbie
zangá-lo
à cowboy de western sem bala
sombra ou cavalo
sofrê-lo
como mágoa amália da
saudade fado
arrancá-lo
a pele e pulso de xizato
fodê-lo todo caralhadas
numa alameda inteira
de atrizes gastas,
sem plateia só táxis
gritá-lo mordê-lo rasgá-lo
tê-lo tentei tê-lo
mas nada
nem verso
nem lenine na praça
Houve dia que desisti,
o ideal virou vácuo
dei comigo engenheiro gelado
só quente na pestana de álgebra,
quando vejo um lúcido cair
do 11º andar a salto voluntário
farto do peso
farto da gravidade
voando pássaro
frango de aviário
caindo homem
à velocidade do estável
até que paraquedista mal aterrado
que estampa no chão raso
que morto solitário
apesar do currículo exemplar
apesar da apólice do carro
e só então vi que o verso justo
para este tempo de umbigos e máscaras
não se faz de palavras
mas do erro matemático:
1+1=1.