Dois poemas
/Sobrevivemos ao calor de acordar perto dos olhos
Sobrevivemos ao calor de acordar perto dos olhos
porque
algumas ausências se agravam
— mesmo sem ostensiva perda óssea —
conseguimos diluir
um
sono aceso
no
susto cujas arcadas
alinham
nossas
lacunas:
(expondo o repouso
ainda
difuso da vogal que aviva
a
chuva
desembrulhada
pela
memória
inumana):
o tempo regressa à frase
até
agora fincada
como
uma guelra na calma
inóspita
da
casa;
junto ao resto
de
rosto que arrasto pelo espanto: (anonimamente?):
distribuir
as
hesitações sintáticas
do
trauma
— durante um lento desmembramento —
enterramos
os
tímpanos nos estigmas quase
exaustos
da
vigília
cujas fendas
já
infestam
novas faltas:
(ao
também reunir antigos
rastros
sob
esquivas
rasuras):
pausas hoje ausentes
do
isolamento vocabular preservam
os
móveis
inoculados na claridade
onde
mergulho parte
da
nuca
ancestralmente informe
de
uma criança avessa
à
sede
não contaminada
por
nenhuma fúria
A insegurança entrincheirada nos músculos
A insegurança entrincheirada nos músculos
dissimula
a fome na fuga; o percurso
(composto
apenas de partidas) programa
perigosas
procuras: afoga fluxo
em refugo — incapaz, contudo,
de corromper a truculência
dos dedos
que, coerentemente
trêmulos, reavivam
a delicadeza
cavando
no
vazio mais
uma
brisa