Adam Zagajewski, "Sobre a minha mãe"

Tradução de João Ferrão e Anna Kuśmierczyk

 

Sobre a minha mãe nada saberia dizer – 
como ela repetia, vais lamentar o dia
quando já cá não estiver, e como eu não acreditava
nem em  “já” nem em “não estiver”, 
como eu gostava de observar quando ela lia um romance na moda, 
espreitando logo o último capítulo, 
como na cozinha, convencida que não é  
um lugar apropriado para ela, preparando o café de Domingo, 
ou, pior ainda, filetes de bacalhau
como espera a chegada dos convidados e se observa no espelho, 
fazendo esse rosto que eficazmente a protegia  
de se ver a si mesma como era (o que, parece, 
herdei dela, como algumas outras fraquezas), 
como, depois, facilmente discursava sobre coisas
que não eram o seu forte, e como eu estupidamente
a irritava, como quando ela
se comparava a Beethoven, ensurdecendo, 
e eu disse, cruelmente, mas sabes, 
ele tinha talento, e como me perdoava sempre tudo
e como eu o recordo, e como voei de Houston
para o seu funeral e como nada soube dizer, 
e ainda não sei.