Cinco poemas de Leila Andrade

A sombra de uma sombra

E veio alguém que apenas sabia serpentear  
Era tudo  
Algo das intimidades ignoradas pelo velho mundo
Escondido no deus único que era o seu
Inflexível coração
E seus verbos de agora beiravam ao desentendimento. 

***

Areia 

Ter de volta mísera confusão de medos:   
através desta casa, do que ainda antigo e
pendente.  Mãos vazias
de mapas, de acertos, de doses. 
Escandalosa marca  
não sei como cheguei  
nesse ponto movediço.  

Do que é novo
mas de voz tardia. 

*** 

Plano b

Tarde longa
de horas mansas  
lá fora algumas sombras esquecidas  
da manhã, 
do peso do teu corpo. 

Respiro-te como reprise  
e isso ainda não me deixa morrer  
todo dia
os meus pedaços
espalham-se pela sala. 

*** 

Reprise 

Não tenho explicações
sei dizer o óbvio
das coisas que vão passando  
nem sempre lentas
ruins, boas. Circulares.  
Daquele tipo de dor esquisita  
você não saberá precisar o local nas entranhas. 

***

Avenidas 

Todos os dias espantar os mosquitos
escondidos em avenidas da casa
prestar atenção no tempo
mais uma vez. 

Dobrar asas devagar
sem escolhas
escoltas
e atravessar o dia
como se fosse normal.


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