Herbertinhos, 24 de Março de 2015
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“não, obrigado, estou bem, nada de novo”
- Herberto Helder (Servidões)
“ isto de militares custa a distingui-los,
feitos em forma como os galos de Barcelos “
- Eugénio de Andrade
Quando morre uma grave ave
há sempre um buraco fundo
um cravado pescoço duro por cobrir
na velha e húmida floresta.
Quem cobre o velho ninho?
O balcão abriu às 7 horas e já havia
uma fila que dava a volta ao quarteirão.
Todos traziam uma mochila com três
quatro cinco seis livros: Meninos de letras
entre lágrimas e versos decorados em cima do joelho
- era o tempo de tirar a senha e esperar.
Enquanto esperavam sonhavam-se originais
e escreviam poemas com versos com
cabeças tochas casas absolutas.
Os ingressos foram todos vendidos
e a cidade sem ave tinha agora
mil pedrinhas chocalhando uma
atonal irritação:
Um canto vomitado de uma ave
morta.
E todos eram Felizes!
Ao fundo das escadas um cego de um olho
enrolava beatas e ria-se. Sabia que o
Dilúvio começara e nem tão cedo haveria árvore.
Magritte - “Colconda”, 1953.
[Porto, cidade livre de armas nucleares e de chuva radioativa.]