[O sol crepita no zinco do barracão]
/O sol crepita no zinco do barracão.
Os cães espumam encarniçados.
Um vespeiro zumbe na sombra.
Uma foice pende de um prego –
o cabo está rachado,
e a lâmina, romba,
funde-se sob o verdete.
Ulcerado também o prego.
Os ratos urinam pelos cantos.
As batatas apodrecem nas sacas.
O bafio emana das arcas.
Os morcegos oscilam nas vigas.
Decénios de pó acumulado
no chão de terra batida.
Aranhas que disputam as moscas
às osgas e aos morcegos.
Uma brisa salobra desliza
pela frincha do portão,
riçando bolores que foram frutos:
nêsperas, ameixas, pêras, limões.
Ao fundo, no alguidar reluzente,
boia afogada uma ninhada de gatos.
A mãe, ainda jovem, enrodilhada
nos pés da dona, mia, esfaimada.