sexta-feira santa

empurra a máquina, Macário
que me importa
se não me abres a porta
se a ela não bato?

empurra-me daqui pra fora
contando as horas
mostrando os dentes
a quem vem a desoras
e nem sei bem
quantas vezes te pedi
que viesses

de perna ligeira
e olhar silvestre
sobe à Senhora do Monte
que me arranje o cordeiro
montado num andaime
desses que se desfazem ao cair da tarde
numa páscoa de santo jejum
à qual faltou sacrifício

ele que diga se eu vivo
eu que troquei o verde pasto
pelo deserto infinito.