Variações sobre Teresa

a primeira vez que vi
teresa foi como se
fosse a segunda
os seus dentes
retornando em si
bemol os seus
cílios se atentando
à notícia diária
da terceira vez que
vi teresa o relógio
da esquina marcava
sete e quarenta e
cinco da manhã

 

a primeira vez que vi
teresa não achei o seu
lóbulo direito quando vi
teresa de novo percebi
o seu estômago arroxeado
da terceira vez que vi
teresa ela acenou pra mim
do outro lado da calçada
e desapareceu pela rua
das laranjeiras

 

a primeira vez que vi teresa
uns ruídos se ergueram por
entre as paredes e, atentos,
estabeleceram uma dinâmica
de grupo para fins de pesquisa.

quando vi teresa de novo
os ruídos se apresentavam para
a banca e todos diziam que
o trabalho tinha sido em
conjunto.

a terceira vez que vi teresa
os céus se misturaram com
a terra mas os ruídos logo
disseram que isso era
cientificamente impossível

 

eu acho que nunca vi
teresa

 

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sobre o que os carnavais anunciam

o que nós 
não dizemos 
amarga
a boca 
retrai a  
língua os 
lábios suspensos 
e o mundo 

o que nós 
não dizemos 
inquieta o 
baço  
agoniza o 
saco as  
nádegas feridas 
e o mundo 

o que nós 
não dizemos 
encolhe os  
ombros 
cutuca o 
peito os 
braços atados 
e o mundo 

às vezes inverno 
às vezes verão

 

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