Duas notas para a Praça da Galiza
/1.
nesse velho prédio dos anos oitenta
caixote aparentemente desprovido de poética
humidade nos cantos
varandas fechadas
(elevador em manutenção
para sua segurança)
havia uma dor constante
para ti imperceptível
o peso do regresso iminente
misturava-se com a euforia
de sentir o universo ao nosso dispor
tingindo de chumbo o alfa pendular
tingindo de melancolia a vista sobre o douro
chovia na partida para esse fogo
o regresso era já o derradeiro abandono da esperança
o que tínhamos parecia tudo
a vida parecia a nossa determinação
mas as fachadas eram húmidas
carregadas de estoicismo
para sua segurança
2.
no porto
a sofreguidão era sempre outonal
os fritos da rua escura sabiam a um passado por vir
um quarto de dose era barato
e trazia solidão que dava para três
era como se a nossa juventude
se estilhaçasse
em miseráveis fragmentos de perplexidade