Enumeração: August in Paris
/a)
No papel em branco, começar por estabelecer a teoria das três cidades (no mínimo): aérea, ao nível dos cais, subterrânea. Ir para lá do sítio onde sempre caminham os nossos pés, aquele que vem nos mapas dos turistas, muito dobrados sobre si próprios. Quem sabe, contar depois, com falsa ingenuidade, (mas será difícil…) uma história que tentasse nada disso esquecer. Nada disso e tudo o mais. Recapitulando. Primeira cidade: nas torres o lugar suspenso das nuvens, as ruas e as praças como um brinquedo frágil e sofisticado, com um trânsito preciso, cuidadoso; segunda: uma cidade mesmo junto ao rio, percurso solitário e errático de cais, largando os negócios do corpo e da alma uns metros acima; terceira: uma imensa plataforma subterrânea, túneis e túneis entrecruzando-se, esgotos, colónias de ratazanas e uma necrópole que murmura um silêncio com demasiada terra e raízes.