Comunicação interrompida
/Um idiota fala sobre poesia. Dás-lhe o ouvido. Cortas a orelha e deixa-la cair sobre as suas mãos. É possível agora fixar este poeta com um olhar inquisidor, não exactamente agradecido. Acarinhaste a intenção desse susto e demoras os olhos em cima deste homem. Esta cara, particularmente. Continuas a carregar perguntas, tens cada vez menos respostas. E se andas, não aumentas, não evoluis. Como outro qualquer, carregas contigo coisas. Uma hierarquia de desrazões. Quanto mais explicações, menos motivos.
No coração de cada ideia há uma pedra, preta e compacta porque absorveu toda a luz em redor. Tu estendeste a mão e estavas à espera da impressão do calor.
É sempre a mesma fábula. Querias falar e estavas à espera de alguém que te ouvisse. Mas não há uma língua que chegue para este grito nem um ouvido em que ele encaixe completamente. Isto é sobre uma comunicação interrompida. A história de um erro. Esmurrar a parede com a chave e estar à espera que o que se abrisse fosse porta.