Nick Laird, Poluição Luminosa
/Tradução de Hugo Pinto Santos
És o santo padroeiro de qualquer outro sítio,
sofres de jet-lag e bebes sumo de maçã,
miras, da janela do sexto andar,
uma piscina em formato de rim
exactamente da cor do azul de Hockney.
Suponho que conheça a vida pelo lado esquerdo,
e, nos últimos tempos, é como se
me tivesse esquecido de alguma coisa na noite –
acordo sozinho e gelado,
ainda agarrado ao meu lado.
Todos os dias, a maré da noite chega
e a atmosfera recebe
uma profundidade de campo dos satélites,
a cama de rede da lua, aviões
que fundeiam em Heathrow.
Acima da poluição luminosa,
por entre estrelas que vogam nesta noite,
poderá haver um outro trânsito –
migrações de garça e de grou,
as suas meadas espectrais são símbolos
que convergem, setas, sistemas meteorológicos,
flotilhas brancas rumando firmes
em direcção ao seu sustento de Verão.
Um milhão de lençóis que se agitam.
Quem sabe como conseguem.
Os guias de navegação podem ser
a memória, pontos de referência,
ou as mais luminosas constelações.
Talvez o ferro no seu sangue
detecte o magnetismo do Norte.
Quem dera que um te levasse um amuleto,
um recado num post-it, num bilhete,
um pormenor que documentasse
este instante de autocomiseração –
a sua Solidão Órfica, com Cão.
Progressos? Nada de extraordinário,
mas a morte da casa
fará do teu regresso
algo como anti-clímax,
violação de propriedade.
Nick Laird, On Purpose, Faber and Faber, 2007
Light Pollution
You’re the patron saint of elsewhere,
jet-lagged and drinking apple juice,
eying, from the sixth-floor window,
a kidney-shaped swimming pool
the very shade of Hockney blue.
I know the left-hand view of life,
I think, and it’s as if I have, of late,
forgotten something in the night –
I wake alone and freezing,
still keeping to my side.
Each evening tidal night rolls in
and the atmosphere is granted
a depth of field by satellites,
the hammock moon, aircraft
sinking into Heathrow.
Above the light pollution,
among the drift of stars tonight
there might be other traffic –
migrations of heron and crane,
their spectral skeins convergent
symbols, arrows, weather systems,
white flotillas bearing steadily
towards their summer feeding.
A million flapping sheets!
Who knows how they know?
The aids to navigation might be
memory and landmarks,
or the brightest constellations.
Perhaps some iron in the blood
detects magnetic north.
I wish one carried you some token,
some Post-it note or ticket,
some particular to document
this instant of self-pity –
His Orphic Loneliness, with Dog.
Advances? None miraculous,
though the deadness of the house
will mean your coming home
may seem an anti-climax
somehow, and a trespass.