Imagem de Natividade
/Geoffrey Hill
Tradução de Hugo Pinto Santos,
para Tatiana Faia
Salvo do mar, aglomerado de detritos marinhos,
Vigas, quilhas, feridas de coral,
Rostos remotos, óleos efémeros,
Jorrados no mar alto do mundo,
Um rei-menino mudo
Alcança o seu posto; detém-se,
Incólume, entre lábeis serpentes; garras
De animais que a carne amacia. No congresso
Da privação torpe e banal,
O artista parece prestar culto
E capitular; confirma a intimidade
Dos galardões; crê nos seus próprios olhos.
Acima do prodígio, toda a mente,
Densa, anjos, asas desnaturadas em riste,
Regelam num gesto
que lembra os mortos.
Picture of a Nativity
Sea-preserved, heaped with sea-spoils,
Ribs, keels, coral sores,
Detached faces, ephemeral oils,
Discharged on the world’s outer shores,
A dumb child-king
Arrives at his right place; rests,
Undisturbed, among slack serpents; beasts
With claws flesh-buttered. In the gathering
Of bestial and common hardship
Artistic men appear to worship
And fall down; to recognize
Familiar tokens; believe their own eyes.
Above the marvel, each rigid head,
Angels, their unnatural wings displayed,
Freeze into an attitude
Recalling the dead.