para um estudo do silêncio acompanhado
/Aprendi a não dizer – falta-me aprender a não pensar. Para deixar de pensar preciso de pensar tanto que não sobre nada, boicotar o esquema por dentro, infiltrando-me no pensamento, que hei-de armadilhar e fazer explodir. A seu tempo. Sabemos hoje, porque o lemos em livros, que faz parte do Caminho sairmos do Caminho.
Sabemos, porque falámos sobre isso vezes sem conta, que um erro deixa de ser erro se o soubermos viver. Desconfiamos que a deriva nem sequer existe desde que nos deixemos levar sabendo que voltaremos e que, se não voltarmos, não há problema.
A minha aprendizagem é como aquele desenho no vidro embaciado de um carro: uma montanha de onde se cai sempre menos. Quando se volta atrás nunca se volta tão atrás. O silêncio também é uma vaidade. Um dia direi: começou por ser vaidade, o meu silêncio. Não percas a tua cidade estrangeira, é esse o meu conselho. Ninguém gosta de encarar a vida como se de uma Viagem se tratasse, porque é ridículo. Todo o misticismo deixa o homem desavisado de pé atrás. E, no entanto, nada faz mais sentido do que esta ideia de passeio, que por ora deve ser expressa com cuidados literais e traçados realistas, a fim de evitar a rejeição precoce. Não percas a tua cidade estrangeira.