Cura
/Vontade de sono. Era isso que tinha. Sempre. É claro que a vida não lhe corria nada bem. Estava sempre desempregado. Ninguém queria um empregado que passava os dias a abrir a boca, a dormir sempre que podia. Ninguém queria um empregado que não cumpria horários de trabalho, que chegava atrasado e saía mais cedo para ir dormir. Ninguém queria um viciado em sono. Os pais levaram-no a uma clínica especializada em curas contra a vontade de sono. Ficou internado três semanas. Foi sujeito a vários exames, terapias. Voltou a ter um emprego certo. Cumpria horários. Fazia horas extraordinárias. Era um empregado exemplar. Apreciado pelo patrão. Querido pelos familiares e amigos. Chegou até a casar. Teve filhos. Levava-os todos os domingos ao parque. Era o marido ideal. Cidadão perfeito. Mas sentia-se infeliz. Já não tinha a enorme vontade de sono. Tinha-se tornado um ser estranho a ele próprio. E não podia fazer nada. Estava curado.