produtos da roça a 8 km, estrada pro rio de janeiro
/montanhas amarrotadas
perto da estrada de ferro enferrujada
galpões abandonados
com grama rasteira crescendo
como num braço
galinhas ciscam na terra vermelha
velha comanda o facão do garoto moreno
nas folhas de bananeira
fumaça em casebres de pintura naïf
cavalos comendo no cocho
vacas deitadas espiam a estrada
motel de caminhoneiro
junto do posto de gasolina, a câmara furada
esta é a trilha da terra
onde se planta arame farpado
onde chovem insetos e resmungam
os postes de fios eletrificados
onde o mato corre queimado
para a beirada da guia na estrada
onde sulcos nos montes
parecem feridas
e flores despencam no lago
onde bebem os bois malhados
ergue-se um manto musgoso
abre-se um veio montado em concreto
aos borbotões de água e das chuvas
lagos pequenos, lâminas de prata
ou borrados de barro
tingindo as patas brancas do gado
caixas d’água e antenas, poços abertos
um deserto cercado
de branco caiado
declive na serra onde a névoa
puxa as nuvens pra baixo
como a fumaça de cigarro
se do nariz pra boca
pedágios não recolhem
parachoques arrancados
nem chifres nos beirais da rodovia
secando roupas nos varais
quarando roupas sobre as pedras
e o riso explode em barba espessa, melancia doce