Peter Reading, Ésquilo
/Tradução de Hugo Pinto Santos
Havia uma razão, mas agora escapa-me,
para eu fixar o céu, de olhos a piscar.
A sua brandura crepuscular empapa-me,
ainda que isso não o possa explicar.
Quando eu era miúdo, li que um poeta
trágico, por trágica ironia, ou por Fado,
morreu por tartaruga e águia cegueta
que lhe tomou a cachola por penedo.
Quem senão talvez um comediante avant-garde,
ou Darwin postulando a bordo do Beagle
sobre a evolução das barbatanas da tartaruga,
podia visualizar a tartaruga tão malvada
que levantasse voo e depois fosse importunar
poetas sossegados em busca do seu pesar.
Agora passo toda a vida, grave, a duvidar,
acho tudo na terra reptiliano e hórrido,
e o Céu manhoso, perigosamente pérfido.
Peter Reading, Collected Poems, vol. 1: Poems 1970-1984, Bloodaxe Books, 1995
Aeschylus
There was a reason, though it now evades me,
why I should nervously wink at the sky.
Its bland crepuscularity pervades me,
though that can hardly be the reason why.
I read once as a child how a tragedian,
with tragic irony or will of fate,
met death by tortoise and short-sighted eagle
which mis-identified as rock is pate.
Who but perhaps an avant-garde comedian,
or Darwin postulating on board Beagle
on how the turtle’s flippers were evolved,
could visualize the tortoise so insidious
as, first to take wing, then to get involved
with poets quietly in pursuit of grief.
I view all life now with grave disbelief,
find all on earth reptilian and hedious,
and Heaven sly, potentially perfidious.