O meu tronco nu

A outra metade seria 
a sereia enrugada, à venda 
numa banca do mercado em Samarcanda 
A sereia ressequida e embrulhada 
em papel de jornal 
 
O erotismo póstumo de uma sereia 
a quem levantassem a saia, ou a colhesse 
o arpão pela cintura. O meu 
tronco nu seria a praia 
onde a vinha encontrar um mercador 
 
Anelar, dividida ao estertor 
por um marinheiro bravo, ressente-se 
a sereia de sémen e suor, mas alicerça o canto 
 
mais acima, na prefloração da pelve 
em guelra ou maçã-de-adão, 
na várzea isquémica onde morre o peixe 
e restolha o sangue como a brisa entre a folhagem