Três poemas de María Sánchez

Poemas: María Sánchez (também María Mercromina)
Selecção: María Mercromina e João Guerreiro
Tradução: João Guerreiro
Revisão: Teresa Costa

amor ou desperdício

Há momentos em que me sinto tão sozinha que tudo grita o meu nome.

António Lobo Antunes

o número,
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Exibição de atrocidades

Se pudesse regressar
como fazem os gatos

Embalando
-lento e suave-
com os dentes

o animal morto.

 

Instruções para a queda

mãe como limpo estas manchas do nascimento
se tenho um rosto nas mãos
bordado

 pai não me ensinou a fugir
só a ficar quieta e a não fazer barulho
- empunhando uma espingarda
apreciarás o silêncio e a camuflagem-

mas o meu defeito é sempre o mesmo:
embalar o animal entre a carne e o sonho.

tudo o que estávamos
dispostos a destruir

 

João Guerreiro é editor do projecto Num só Grito, este projecto, com um cariz marcadamente contemporâneo, trata de reunir num só espaço os jovens autores de Portugal e Espanha. Assente na tradução da nova poesia portuguesa e espanhola, tem como principal diferenciador ser um projeto bilingue. Todos os meses são selecionados um poeta português e um poeta espanhol. São publicados no nosso blog três poemas de cada poeta com as suas respetivas traduções em português e espanhol.

Mais poemas de María Sánchez podem ser lidos na página do projecto.


amor ou desperdício

Hay momentos en que me siento tan sola que todo grita mi nombre

António Lobo Antunes

lo sentimos el número 
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después de la señal

 

Exhibición de atrocidades

si pudiera volver
como hacen los gatos: 

meciendo
-lento y suave-
con los dientes 

al animal muerto 

 

De Instrucciones para la caída 

madre con que limpio estas manchas de nacimiento
si tengo un rostro en las manos
bordado 

padre no me enseñó a huir
sólo a quedarme quieta y no hacer ruido
-empuñando un rifle
apreciarás silencio y camuflaje- 

pero mi defecto siempre es el mismo:
mecer al animal entre la carne y el sueño. 

todo lo que estábamos
dispuestos a destrozar
para qué
dices ahora, 

todo
para qué