A NUVEM
/Odysséas Elytis
Em Maria Nefeli
Tradução: Manuel Resende
Eu vivo dia a dia – que o futuro, não o diviso.
C’ uma mão amarroto o dinheiro, com outra o aliso.
Vês, as armas têm de falar nos nossos tempos caóticos,
’Té temos de dizer amém aos «ideais patrióticos».
Que me fitas tu escriba que farda nunca vi usar?
olha que fazer dinheiro também é arte militar.
Não me venhas com insónias e amargos versos vários
ou pichar paredes com slogans revolucionários.
Para os outros, um intelectual é que hás-de sempre ser
e só eu te amo: refém dos meus sonhos hás-de viver.
E se em verdade o amor é como dizem «comum divisor»
eu hei‑de ser Maria Neféli e tu das nuvens o Empilhador