O novo governo e a arte

Picasso, Autorretrato, 1972 (cera sobre papel)

Picasso, Autorretrato, 1972 (cera sobre papel)

Emerge um novo governo, e a cultura voltou a ter um Ministro. Parece bom, veremos. Mas talvez a justificação esteja mais no facto da Cultura ficar com a RTP (os seus milhões e o seu poder de alienação) do que numa vontade séria de apostar neste campo da realidade, se fosse esta a vontade mais genuína, então teria sido nomeado alguém mais próximo do mundo da arte. 

Diz-se que Picasso se revelou finalmente no auto-retrato que pintou em 1972, quando já estava acima de qualquer interesse na recepção, quando já podia procurar-se para lá da maquilhagem que ele e outros colocaram, para esconder imperfeições e amplificar perfeições, com certeza, mas sobretudo para se adequar à genialidade que projectava para si mesmo. 

Da mesma forma, espero que João Soares, novo Ministro da Cultura, saiba mostrar-se como é, agora que tem quase a idade de Picasso quando pintou o Autorretrato, para que possamos dizer-lhe o que pensamos, na admiração e na crítica. 

De qualquer forma, com a prudência de um certo pessimismo, penso que Vladimir Nabokov tem razão ao afirmar: "O problema é que nenhum governo, por mais inteligente e humano que seja, é capaz de gerar grandes artistas, embora um mau governo possa certamente importuná-los, opor-se-lhes e suprimi-los." (Opiniões Fortes

P.S. esta citação também serve os optimistas.