Dois poemas de 'El Segundo' de Sebastião Belfort Cerqueira
/Setembro
Lembra-me um setembro
Uma sexta-feira
Ainda o sol mal posto
E a maré cheia
E a casa vazia
A casa inteira
A olhar pró mar
Sem razão pra isso.
Se fosse por mim
Ia a casa abaixo.
Lembra-me um setembro
Um dia qualquer
Uma vaga larga
Com ar de mulher
E a casa branca
Mais do que o jardim
Com todos lá dentro
E cara de fim
E a perguntar-me
Se fosse por mim
Se a casa ia abaixo
E eu acho que sim.
Se fosse por mim
A casa ia abaixo
E ainda pra mais
No fim dos vendavais
Do próximo setembro.
Se fosse por mim
Ia a casa abaixo
Talvez já de noite
Com todos lá dentro.
Primeiro Poema Sobre o Mar
Houve um
Sentado na doca
A ver a maré vazar
Que primeiro me deu a ideia
De que há coisas no mar
Que há mais gente que vê.
E diz que é bom de contar
Que muita gente aprecia
E não é só marinheiros
É a aristocracia
E os fadistas e os banqueiros
Sentados e a escutar.
Parece que é truque velho
Pra vender casas e coisas
E que ainda hoje os engana
Isto de o mar ser usado.
Mas a mim pouco me importa
Que eu quando for vou armado
E levo o balde e a cana
E acabo isto sentado
Em tudo como na doca
Na doca com o outro ao lado
A ver a tarde passar.
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