Quando morreste

Quando morreste, Helder,
Orpheu fez cem anos de moderno.
Nem assim te pouparam,
todos te louvaram, poeta,
e tu continuas morto.

E as manchetes disseram também
cento e cinquenta cadáveres.
Pulverizados. Voavam. 

O diabo fala como a carne,
e nós sabemos que sem esses deuses
somos apenas isto que sobra. 

Tu e eu. 

Desabrigados, desunidos.
Datas que se cruzam.

Mas depois virá a chuva. 

Sim, ela vem sempre,
vulnerável,
e há-de acabar,
como acabam os nossos filhos.