Podridão Poética

Há livros com corpos vertidos dentro,
que só a morfina do olhar
impede de sentir.
Lá dentro
a imundície e a podridão.
As respirações mortas
e os restos de carne ainda pulsante.
Os gritos ainda perfuram.
As lâminas continuam a cortar.
Os corpos vertem-se lentamente 
escorrendo dos dedos do autor.
Sangram gota a gota para as páginas
que, fétidas, me vêm depois visitar.
Mas nenhum livro sem este cheiro
merece ter a oportunidade de existir.