György Petri, Retrato de um sonho acordado com Maya e criança
/Tradução de João Miguel Henriques et al.
O número do B.I. expirado pressiona-te as costas,
o pátio incendeia-se como carboneto.
A criança volta a sentar-se durante o sono,
sonha com a bicicleta roubada e com o chefe de polícia,
de elmo de prata e farda de marinheiro fluvial,
conduzindo o ladrão da bicicleta para o cadafalso.
Remamos sombrios para as delícias
da madrugada sobre o Estige.
A voz da velha estridula no pátio,
o nosso sono pisa abóboras podres.
Amo-te, minha querida
tu olhas-me com fogo nos olhos
no teu relance há um incêndio de arbustos.
Fogo-posto no lençol bolorento.
Paredes húmidas
transpiram o tormento amoroso,
o frigorífico começa a ferver.
A margarina arde no papel dourado.
A madrugada
prepara-se para atacar. Nem tu podes salvar-me.
O contador de gás lateja. Tomas banho. As crianças
esperam. Como és capaz de olhar para elas?
Não paro de pensar nisso. Não sei…
não quero saber... Resolvemos a vida
entre portas, depois enrolamo-nos,
cadáver por cadáver, à pressa, caindo aos bocados.