Não sei lidar com a rejeição

Não sei lidar com a rejeição. Por mais textos que leia sobre escritores que tiveram extrema dificuldade em publicar livros hoje considerados geniais, custa enviar um manuscrito a uma editora e não receber resposta ou levar um não. Sou traumatizado, qualquer palavra me fere de morte. Sou uma flor de estufa. Não ando atrás de editoras, nem de revistas, nem desejo conhecer novas pessoas, e tendo a desiludir-me com tudo, literalmente com tudo. 

A editora é demasiado mainstream para ti, só publica best-sellers. Podemos inventar mil frases para aliviar o peso do fracasso. Os editores da coisa não captaram a essência da tua escrita ou nem te leram o manuscrito. Talvez seja verdade. Admitamos que a escrita é extraordinária, que o editor não captou a alma do documento ou que nem lhe pôs os olhos. A sensação de fracasso não desaparece. Culpar os outros é, para quem cresceu martirizado, uma forma de nos culparmos ainda mais. Quanto mais culpamos terceiros, mais forte se torna a convicção de que estamos a fugir à responsabilidade. Somos responsáveis pela nossa mediocridade. Abundam os textos dedicados a temas como "the art of not giving a fuck". Ler esses textos consola durante o momento em que os lemos, depois regressa a sensação de não valer um tostão furado. A vontade de desistir, de não querer publicar, escrever, comer ou sair da cama, volta à superfície mal nos encontramos disponíveis para ouvir a vozinha que nos acompanha desde tenra idade. A americana Roxane Gay escreveu algures que grande parte da vida de um escritor passa pela rejeição, que ser rejeitado é o quotidiano de quem escreve. Se não convives bem com a rejeição, não és escritor, assevera Gay, se calhar com razão a mais. Quero ser amado. Aceite. Não me atirem um não, será o último não. 

Quando me pergunto se existem editoras ou revistas para as quais possa enviar manuscritos ou artigos, a resposta é invariavelmente negativa. Enviar textos para onde? Misantropo, imagino que a malta se conhece, que é preciso pertencer a círculos, assistir a apresentações de livros, aparecer no bar x ou na sessão de leitura y. Claro que sou ridículo e que o mundo das editoras premeia o talento. Só é recenseado o verdadeiro génio. Não é só por não conhecer ninguém que não abandono o casulo, é também por não acreditar em nada. Fará isto sentido? Um homem morre e a sua biblioteca pessoal vai parar às mãos de um carroceiro que os atira para o lixo ou vende na feira. Um escritor publica um livro e ninguém se interessa. Tolstói escreveu A Guerra e Paz mas na altura da nossa morte não haverá livro que nos salve. Nada faz sentido e quem sabe se a melhor opção não será o silêncio.