Michael Symmons Roberts, «Mapear o Genoma»
/Tradução de Hugo Pinto Santos
O geneticista no lugar do condutor desce o gene,
código introduzido, digamos, um descapotável,
e fica-se à espera de curvas,
verdadeiros testes aos pneus em apertadas
passagens de montanha, mas em vez disso
sempre em frente, na auto-estrada, como na pista,
espiral desensarilhada como uma paisagem,
um ponto de fuga. Mantém em baixo
o pé. É um deserto finito.
Vais depressa de mais para o ler,
a ordem dos rochedos, os cactos,
ervas na berma, uma névoa para ti.
A cada hora passas pela barraca
que passa por motel aqui:
aprumados quartos difusos onde a televisão se liga
para fazer companhia, o dono mede às passadas
o parque de estacionamento deserto. E depois
de cada motel esbarra-se numa tempestade de areia
espessa como o nevoeiro, mas agonia.
Restam algures despojos
da noss evolução, genes da forma
de voar rumo ao sul, pressentir a tormenta,
caçar pela noite, como couraçar
a pele numa pelagem rija, em escamas.
São milhas de um código morto.
Todo o deserto o tem.
A tua missão é descobrir
porque ainda se detém o coração humano
quando os mergulhadores fendem as águas,
porque nadam ainda sereias nos nossos sonhos.
Michael Symmons Roberts, Corpus, Jonathan Cape, 2004
Mapping the Genome
Geneticist as driver, down the gene
codes in, let's say, a topless coupe
and you keep expecting bends,
real tyre-testers on tight
mountain passes, but instead it's dead
straight, highway as runway,
helix unravelled as vista,
as vanishing point. Keep your foot
down. This is a finite desert.
You move too fast to read it,
the order of the rocks, the cacti,
roadside weeds, a blur to you.
Every hour or so, you pass a shack
which passes for a motel here:
tidy faded rooms with TVs on
for company, the owner pacing out
his empty parking lot. And after
each motel you hit a sandstorm
thick as fog, but agony.
Somewhere out there are remnants
of our evolution, genes for how
to fly south, sense a storm,
hunt at night, how to harden
your flesh into hide or scales.
These are the miles of dead code.
Every desert has them.
You are on a mission to discover
why the human heart still slows
when divers break the surface,
why mermaids still swim in our dreams.