«O Peregrino» e «Aviso» de Nicanor Parra
/tradução de Bruno Ministro
O PEREGRINO
Atenção, senhoras e senhores, um momento de atenção:
Virai por um instante a cabeça para este lado da república,
Esquecei por uma noite os vossos assuntos pessoais,
O prazer e a dor podem ficar à porta:
Ouve-se uma voz deste lado da república.
Atenção, senhoras e senhores! Um momento de atenção!
Uma alma que esteve engarrafada durante anos
Numa espécie de abismo sexual e intelectual
Alimentando-se escassamente pelo nariz
Deseja fazer-se ouvir por vós.
Desejo que me informe sobre alguns assuntos,
Necessito um pouco de luz, o jardim cobre-se de moscas,
Encontro-me num desastroso estado mental,
Raciocino à minha maneira;
Enquanto digo estas coisas vejo uma bicicleta apoiada num muro,
Vejo uma ponte
E um automóvel que desaparece entre os edifícios.
Vocês penteiam-se, é certo, vocês andam a pé pelos jardins,
Debaixo da pele vocês têm outra pele,
Vocês possuem um sétimo sentido
Que vos permite entrar e sair automaticamente.
Mas eu sou um criança que chama a sua mãe de trás das rochas,
Sou um peregrino que faz saltar as pedras à altura do seu nariz,
Uma árvore que suplica que a cubram de folhas.
De Poemas y Antipoemas (1954)
AVISO
É proibido rezar, espirrar
Cuspir, elogiar, ajoelhar-se
Venerar, uivar, escarrar.
Neste recinto é proibido dormir
Inocular, falar, excomungar
Harmonizar, fugir, interceptar.
É estritamente proibido correr.
É proibido fumar e fornicar.
De Versos de Salón (1962)