Dois poemas de Mariano Alejandro Ribeiro
/VOU
Para evitar a aglomeração
De shenanigans do circo
Risco os dias no almanaque
& canto aquela do
fotografei você na minha rolleiflex
Assim foi como abandonei a escola
Com método & perícia
& virei-me para a tradução
De livros de auto-ajuda
- - -
A pensar naquela foto tua na ria
Era curioso como assim
Rolleiflexada no negrume
Da alvorada
Ainda eras sem dúvida
O príncipe pequenino
Com todos os medos que por direito
Pertencem aos poetas do século xix
& a um ou outro que ainda anda por aí
A chutar pedras pelo caminho
Quando vai trabalhar
Naqueles tempos a sorte era
Uma medalha de ouro na mão
Sermos netos dos lavradores mais volúveis
Desta terra
Era benzer-nos com os cantos
Da filosofia oriental
& quando os pegos de água doce secavam
Acabávamos no mar
Frente à ilha deserta de madrugada
Acabávamos na cafetaria
Dos trabalhadores do mercado
Empastados pelo cheiro a maresia
Sempre na cafetaria
[insira memória nostálgica e conclusiva]
Bicho, risquei do almanaque
O quadradinho de amanhã
Fico à tua espera a folhear o jornal
ANTONIN ARTAUD
O poema começa com o Sr. Prufrock
A aparar os pelos do nariz
Com aquela tesourinha pequena
Então vem, diz ele
Till human voices wake us
E corta imediatamente para um
Plano lato do celeiro em Paumanok
Ao amanhecer
O homem-pardo é o homem-montanha
Disso não há dúvida
Acordei hoje e soube logo
Que a inclinação da janela
Para os lados da sombra
Com os lençóis suados e tudo
Era a melhor maneira de ler
Whitman
Mesmo com colheitas fracas
E com anos de seca
A vida permanece líquida
Num jeito que diz
De dentes cerrados
«O riacho voltou a correr»
E a minha reacção é sempre
A mesma
Pões a quinta e roças-me
Gentilmente com as costas da mão
Gordinha a perna
O joelho estremece
E as aves de passagem
Nem sei o que dizer
Aqui as manhãs sem neblina
Continuam a ser a melhor altura
Para ler Antonin Artaud
No jornal antigo engatafunhado
Por dísticos orientais
Dos tempos em que aprendia línguas
Na internet
A caneta rebentou no papel
Do jornal dizia 逸れる
I’ve been lost and found
I’ve been lost and found
A montanha continua a ser
O melhor que aconteceu ao
Meu diário
Depois disso, não sobrou ninguém
Mas é assim que funciona
O ar cá em cima, é sempre assim
Já o sabíamos
O Sr. Prufrock pousa
A tesourinha
Olha-se ao espelho
Fim do poema