Alguns poemas de "Orientações" de Odysseas Elytis

 

Odysseas Elytis,
Tradução de Manuel Resende

Do Egeu

I

O amor
O arquipélago
E a proa da sua espuma
E as gaivotas dos seus sonhos
No seu mais alto mastro o marinheiro drapeja
Uma canção

O amor
A sua canção
E os horizontes da sua viagem
E o eco da sua saudade
No seu mais húmido rochedo a noiva espera
Um barco

O amor
O seu barco
E a despreocupação dos seus ventos de Agosto
E o estai da sua esperança
No seu mais leve ondular uma ilha embala
A chegada.

CLIMA DA AUSÊNCIA

I

Todas as nuvens da terra se confessam
E um penar meu ocupou-lhes o lugar

E quando nos cabelos entristeceu
Impenitente a mão

Atei¬ me num nó de dor.

II

A hora entardeceu esquecida
Sem memória
Com a sua árvore muda
Para os lados do mar
Entardeceu esquecida
Sem bater de asas
Com a face imóvel
Para os lados do mar
Entardeceu
Sem amor
A boca inflexível
Para os lados do mar

E eu - mergulhado na Serenidade que seduzi.

III

Tarde
E a sua imperial solidão
E a ternura dos seus ventos
E o seu arriscado esplendor
Nada que chegue Nada
Que parta

Todas as faces nuas

E por sentimento um cristal.

SEGUNDA NATUREZA

I

Sorriso! A sua princesa queria
Ter nascido no reinado das rosas!

II

O tempo é uma sombra rápida de pássaros
O meu olhar escancarado entre as suas imagens

Em torno do verdíssimo êxito das folhas
As borboletas vivem grandes aventuras

Enquanto a inocência
Despe a sua última mentira

Doce aventura Doce
A Vida.

III

Epigrama

Antes dos meus olhos eras luz
Antes do Amor amor
E quando o beijo te tocou foste
Mulher.


Orientações (Em Grego, Prosanatolismoi) é o primeiro livro de Odysseas Elytis e foi publicado em Atenas em 1939. Em epígrafe ao livro lê-se um verso de Rimbaud, Départ dans l'affection et le bruit neufs.