E ele deixou quem berrava
/ E ele deixou quem berrava
queimar em vão & sem combate serem cinzas
enquanto o sol imerge & a noite roda o dia
Assim sem chance de causar mais morte
aos poucos passa a ira as mentes se arrefecem
tal como um peito ferido é mais feroz
quando é recente o golpe a dor & o sangue ainda entrega
aos membros movimento & os ossos não repuxam
a pele — mas quando a mão estanca então
o torpor ata as mentes os membros & retira as forças
depois que o sangue frio aperta nas feridas
Sedentos primeiro procuram por fontes secretas
cavando terras ribeiras subterrâneas
perfuram chão com enxadas ancinhos
com suas armas & o poço escavado no monte
desce ao profundo dos campos irrigados
Mas nem no curso oculto os rios ressoam
nada reflui das pedras abatidas
nas rochas nem orvalho se destila
nem veio emana dos cascalhos
jovens exaustos de suor
são retirados dessas minas
na busca pela água fez-se o calor
intolerável & os corpos fatigados
não se bastam de alimento & abandonando
as mesas assentam sua fome — se um trecho
do chão oferta um solo que se encharque
espremem sob a mão o sumo do charco
se encontram pelos cantos o preto dum limo
soldados se matam por goles & moribundos
matam a sede como vivos não fariam feito feras
secam o gado & quando leite acaba chupam
da teta exausta a borra do sangue então esmagam
ervas caules colhem ramos orvalhados
& apertam toda a seiva dos brotos
até a medula — felizes são os corpos
daqueles mortos pelos inimigos
& que infectam águas de outros rios
enquanto expõem ao dia o pus dixit Lucanus
que beberão homens de César
O fogo abrasa os órgãos a boca seca
a língua escama-se áspera & enrijecida
as veias mirram o pulmão ressequido
encerra seus canais suspiros duros
escavam mais os seus palatos & a boca
se arreganha a sorver o sereno da noite
esperam chuvas
que corram onde antes nadavam
o olhar se fixa na secura das nuvens
sedento o exército contempla
ali tão perto os próprios rios