Adam Zagajewski, "O blusão verde"
/Tradução de João Ferrão e Anna Kuśmierczyk
Quando o pai caminhava em Paris,
muitas vezes num blusão verde,
que mandou fazer para si à medida
(um dos poucos luxos
na sua vida bastante modesta)
quando passava longas horas no Louvre,
estudando as obras de Corot e de outros pequenos
mestres dos séculos passados,
eu ainda não sabia, não podia saber,
quanta destruição se escondia
nos anos que então se aproximavam,
como se esse blusão verde
lhe trouxesse infelicidade,
mas, contudo, compreendo agora,
desconfio, que a catástrofe
foi cosida por dentro de todas as suas roupas,
independente das cores ou das formas,
e até o maior dos mestres da pintura
em nada o podia ajudar.