5 Poemas de J. Carlos Teixeira

a minha senhoria turca
chamou-me de
caseiro caseiro
porque eu gostava de ficar em casa; 
agora a minha senhoria chama-me de  
party boy, 
ela diz que saio muito, 
que vou para muito longe 

a minha senhoria turca diz-me que
o meu cabelo lambido, 
amassado, 
académico, 
já não me fica bem, 
que em vez disso  
deveria apostar no
penteado despenteado, 
diz-me para não ser como os homens turcos
que arranjam o cabelinho com  
uma escova de dentes 

ela leu-me nas borras do café 
que o meu cabelo é pura
influência
do meu pai, 
do meu tio, 
ou talvez de um amigo  
que me tenha inspirado com  
os seus caracóis envolvidos
na suavidade da risca ao lado
e de um baklava por comer

§§§ 

as casas em Berlim  
são como as outras
casas, 
como as casas que sempre conheci, 
mas não são casas onde se vive de
limpezas ao sábado 

 
nas casas em Berlim
não entram gatinhos de rua
porque não há gatinhos de rua
em Berlim  

 

§§§ 

 

os homens do meu bairro  
gostam de avistar  
as moças nos cafés
 
descem do u-bahn
linha oito
até villa neukölln
onde as sainhas
comem gelado de
tangerina  
 
em villa neukölln
eu só vejo
filhos
que nunca serão meus
filhos
que são só 
filhos
de morangos
papaia
currywurst
abacaxi

§§§ 

Um escultor barroquíssimo
na impossibilidade de conchas e flores, 
oferece em segredo uma pera
de porcelana fina e delicada
que ele mesmo pinta
com os seus pincéis gastos e perosos. 
O seu coração mostra a invulgar forma
de corrimão-pomar
onde se deixa ver a charneca de portas, 
cada uma escondendo uma pereira e um rouxinol. 
Ao fundo, Adriana, 
jovem doce e de boas leituras; 
espera o presente sentada no banquinho, 
e na perfeição das veias douradas, 
sorri-lhe de verde seda, 
amoras e rococó. 

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Temple Run

Karma Lee vale
vinte e cinco mil tostões
e afoga-se nos templos mexicanos
enquanto foge pelo
muro de trunfo; 
imagino que goste de chá chinês
arroz xau xau
bling bling
la la land