Desprezo
/Theme de Camille
- Georges Deleure
“Hienas, detesto hienas”
Timon
Outrora, todos choraram a morte de Mufasa; chegada a hora certa, escolheram os rápidos da Nova Inglaterra na companhia de um Colibri azul; voaram de bicicleta sem nunca saírem de um triciclo; apanharam o anel no lago da Lenda da Floresta com o Tom; viram cair a última pétala da rosa dentro de uma redoma de vidro e ouviram o grito da fera. Viram anões, monstros voadores em viagens sobre as nuvens, génios e tapetes voadores; decoraram frases como “estou rodeado de idiotas”; cantaram Hakuna Matata; riram muito com Timon e choraram pela Rose Jack.
Hoje, sim, Godard! Pois, claro! Ah, sim! Claro. Sim, sem dúvida. Efetivamente. Pois, bem! Eu creio que sim. O mesmo, penso o mesmo. Sem dúvida! Sim, sim, a cor. Recordo-me, sim! Ah, pois! Sim! Não tenho dúvidas! Grande plano. Pois, sim! Claro. A tesoura, Picasso e aquele rolo de tinta azul. Eu sei, eu sei! Creio que tinha sete anos, não, minto, tinha seis anos e meio quando vi Pierot le fou, Alphaville e À bout de Souffe.
Subido o degrau social, e vendido todo o sentimento numa conversa inútil, chegam ao alto patamar, longe de si próprios. O rápido secou, esqueceram Mufasa e já não salvam nenhuma floresta! E a frase decorada transforma-se num espelho baço onde lavam o rosto.
Agosto, 2018.
Timon