engano nosso ao pensar; origami; de que adiantaria fingir; é simples, o mar existe, eu imito; cambalhota; sensorial
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#1
engano nosso ao pensar
que um grande castelo
resistiria à leveza do mar
#2
origami
barco de papel
executado por mãos ocidentais
afunda sem fundamento
aparente
#3
de que adiantaria fingir
escutar o mar
quando é a sua voz
que ressoa a cada quebra?
é um imenso esforço
ouvir as ondas
como repetições, e nada mais.
envelheço
entre um estrondo
e outro.
#4
é simples, o mar existe, eu imito
feita para quebrar-se, a onda
não sacia a sede de infinito
#5
cambalhota
envolvida pela brutal onda
senti meu fôlego desintegrar-se
tingir-se violentamente pelo azul
daquele oscilo que era um oceano inteiro
de tão intenso, de tão mortal.
vivi o significado de voragem
antes mesmo de conhecer a palavra.
mergulhei num turbilhão de sensações
e lampejos como se estivesse no centro
de um tornado submerso. no ápice do trago,
o mar imprimiu toda sua implacável força, marcou
meu corpo e o ensinou a medir grandezas.
no infindável giro, gravei meu tamanho no mundo
e meus olhos passaram a inundar tudo
como os de alguém
que está prestes
a afogar-se.
#6
sensorial
pelo pouco que domino das minhas reações
suponho que meu primeiro contato com o mar
deve ter sido mais atroz que apaziguador.
estar diante do imprevisível
é uma tarefa árdua: por mais que se antecipe
certo padrão
cada sequência de ondas desloca
um cheiro um som uma textura peculiar.
é impossível interpretar plenamente o canto da água
até decidir
sugar o lábio inferior para dentro da boca
percorrê-lo cautelosamente com a língua
e tragar o sal do azul
pela primeira vez.