Inês; A planta; Tarkovski
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INÊS
Inês deu para vomitar pregos
e arames farpados nas noites de lua cheia
Em sua garganta pigarreava
a ferrugem, parafusos e a crença em deus
rezava cuspindo tétanos, salmos
e porcas espanadas
Inês era tão bela.
A PLANTA
Esta planta está conspirando
em nosso silêncio?
Alimenta-se do quê?
De tragédias, chacinas,
Sombras ensangüentadas,
Esgotos disformes de fuligens
e parafusos?
Ora, esta planta não deveria
resistir
Não deveria suportar tamanha
hostilidade
Não poderia abrir tanta copa e pétalas
e cores nesse sombrio
cinza
Desafias a paisagem?
Afrontas nossos olhos mesquinhos
e cada vez mais rudes?
Multiplica-se qual erva-daninha
sobre o leito estático
desse rio avesso?
É urgente eliminá-la.
Cortem-na, desde já,
pela raiz
Com golpes secos, precisos
para arrancar-lhe qualquer beleza possível.
TARKOVSKI
A casa em chamas
Janela enclausurada nos olhos vermelhos
A mulher põe a manhã no chão
Entre arbustos e palavras
Descosturamos o silêncio