Vestido Vermelho 

 Nunca serás aquela loira de vestido vermelho a desaparecer na distância 

Como uma brisa fresca, apesar dos quase quarenta graus atenienses, 

Nunca terás todos os nomes possíveis, nem serás a manic pixie dream girl 

Que o tempo desfez, ama-se mais a ilusão que a verdade, 

Nunca te vi de vestido sem estares toda cinzenta, uns minutos e depois, 

Não tu,  um sol impossível nos metálicos invernos nórdicos, 

Nunca serás o que te sonhei, mas a culpa dos sonhos é de quem os sonha, 

Não de quem com um olhar, planta ilusões, que crescem em vazio, 

Maior ainda do que antes da semente, nunca serás aquela loira de vestido vermelho, 

Porque os filmes acabam sempre antes do roer das unhas se entranhar nos nervos, 

Antes do nome carregar toda a frustração e desprezo que os pós-créditos trazem, 

Se se esperar tempo suficiente, nunca serás aquela loira de vestido vermelho, 

Mesmo que tenhas sido aquela loira de vestido vermelho, mesmo que isto 

Quase seja um poema de amor, que nunca será, porque tudo uma vela curta, 

Numa noite de incêndio. 

 

Atenas 

 

09.07.2019