TELEJORNAL e outros poemas

TELEJORNAL

Bem-vindos a mais um Telejornal.

O Coronavírus, finalmente, chegou a Portugal! iupi!

Agora vai ser só aumentar as audiências e eu

já sonho com uma piscina nova lá para o ano!

Como andam os meus queridos? Os meus

amados espetadores que me seguem

no Instagram? Os meus fãs, tão fofos!

Olha, aqui, eu a bater com a caneta na mesa

para a tia Zeca; e eu a piscar o olho

para a Rosalina lá da Farmácia, hem!

Eu queria aproveitar, antes de vos

dar as notícias, notícias de alta qualidade,

de vos convidar, a todos, a irem lá

para casa. Bom, não é bem lá para

casa, não é nada disso! Vou instalar

uma câmara em cada divisão para vos

dar, em primeira mão, as notícias:

uma sobre a cama, uma sobre a mesa,

uma sobre a sala e outra sobre a sanita.

Agora é tempo de encher o peito,

assim, estão a ver? Assim, grande

como se fosse um Pavão da Pierre

Cardin, estão a ver? Agora, sim,

vou abrir a boca e dizer “O DRAMA!”.

(Viram que arregalei os olhos

quando disse “DRAMA”?).

É preciso para aumentar o pânico!

Não se esqueçam de lavar as

mãozinhas. Cuidado a atravessar a

passadeira, comam de garfo e faca.

Rezam ao Senhor – Eu- e não saem

de casa. Isto não está para brincadeiras,

meus meninos. Portem-se bem! Assim diz

o vosso e único padre destes tempos difíceis!

Comam bem, durmam aquele sono reconfortante,

sabem, aquele que nos deixa mesmo relaxados?

Sim, esse! Mas não saiam de casa. Dez horas

em casa. Lavem as mãozinhas!

Agora, para vos acalmar, vou ler

um poema do touro Alegre:

“Lisboa vazia, Lisboa sem gaivotas, Lisboa!”

Magnífico! Por hoje é tudo!

Fiquem bem e não

se esqueçam de lavar as

mãozinhas, meus meninos!

Portem-se bem, cutchi,

chutchi!

 

IMPUDICO ARDOR

 

“O Tareco doutor, que à

pura força/ quer atochar

de termos bordalengos”

          - Filinto Elísio  

 

A poesia segundo alguns

é a arte do bordado e

o sonoro encantamento.

Só se for de belas sereias!

Um monstro esperando a

vítima é o que é!

 

Juntava palavras ao acaso

vindas de antigos dicionários

e vendo o sucesso do Senhor

Coiso ele tem razão e eu

cá me engano caindo neste

poço escuro de ignorância.

 

Mas algum de nós tem

de ter a razão plena?

Creio que não. Digo isso

todos os dias! Noto apenas

a incapacidade do Tareco

ir aquém do Bordado.

 

A incapacidade de levantar o

velho bordado e ver apenas o pó

- o seu importante ego

dissolvido no tampo do amanhã.

JOHNSON’S BABY

 

Os meninos da poesia usam

todos pó de talco no rabinho.

 

Cheirosinhos e sem pelinhos (muito

Peço). E escorrego até à base.

 

À catequese vão todos ao domingo

e missa sim missa não dão o dito

 

(deitados sim) pelo dado “não”!

É tudo só bonitinha ternura!

 

Amanhã vamos todos ler poesia

lá prás terras de Santa Salomé

eles S. João da Cruz eu S. João Picolé!

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Huma Bhabha, Nova Iorque, pormenor.