[Caem, à vez, como o metrónomo]
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Caem, à vez, como o metrónomo
da chuva a entupir os bueiros.
Outros, nem isso. Por um erro de cálculo,
lapsos da física, a mão que tremia.
Resultado: fracturas, escoriações,
um gatafunho nos pulsos, fechando,
o alarme da vergonha a meio do sono:
«nem à morte soubeste chegar a tempo».
É noite, a vida pesa, só um lençol preto sufoca
os adiados suicídios.
Os corpos resignam-se aos dias
para serem enterrados ainda vivos.
Nicolas Poussin - “Inverno”, 1660-1664.