Depois das Cinco

Chegar a casa e merendar, leite achocolatado, uma sandes de fiambre e queijo,

Não havia intolerâncias, o sol punha-se na janela, lentamente, a eternidade

Além das cortinas que a mãe tricotou, ouviam-se os garotos que esperavam

Os autocarros que os levariam às respectivas aldeias, que mais tarde se acendiam

Nos montes do horizonte escuro, amanhã seria um dia certo, custava a geada,

As primeiras horas de casaco e luvas, mas havia sol nos intervalos,

Estávamos inteiros, ainda longe de nos tornarmos nos homens

Que o destino faria de nós, a geada onde o Sol não chegava, permanecia

Por várias semanas, esperando a primavera, que chegaria sempre,

Mais um dia acabava, caminhava-se para casa antes de cair uma nova geada,

Um subia pelo adro, outro descia pela rua até ao fim do bairro,

Até amanhã, certos como a vida, o sangue jovem e imortal que tínhamos,

Sem imaginar primaveras impossíveis, que não chegariam a todos,

Sem pensar em cemitérios onde erva nova crescerá, porque sempre cresceu.

 

Turku

 

22.01.2021