5- raízes que nos ergueram esmagadas
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raízes que nos ergueram esmagadas
ceifadas da rua em prol do progresso
comovendo-nos lágrimas aparentemente puras
como pura é a dor universal universal ferida
sangrando quem diria a autocarros STCP
o grande dilúvio da dura-mater
como poderia Deus ter nojo de seu corpo humano
quando sem corpo nem mágoa nem zénite
nem ó meu safado glória!
nem glória de Deus nem escárnio de Deus
ter corpo humano porque não rir-se disso
do pavor de ver o fantasma possuindo o granito
aparecendo como Judith degolando os infiéis
tributo à tribu que inventou o trauma
o real como um cordeiro sacrificial
vêem meus meninos as suas patas tremendo vacilando suplicando
reparem como afinal tão imberbe tão próximo tão idiossincrático!
e nós
recebendo a chuva diluvial como adolescentes
fossemos surgindo indistintos na legião dos patetas
altercando com um néscio comando
o sentido da vida
e frívola de spleen
nalguma metrópole germânica
a rapariguinha da boutique naturalista
adorando astros fulminados
serviu-nos na língua
com suas mãos obscenamente cautelosas
veneno
e vendou-nos
para comermos vísceras de revoluções
à porta de um corcel
com uma grandiosa inscrição neon-pedagógica por cima
isso e a existência como uma agonia
a mão na garganta de nos lembrarmos
de quando foramos tão longe disto
como que
altos brancos e despovoados